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Como se deu os boicotes da NBA

Na última quarta-feira, dia 26 de julho, era para ter acontecido a partida entre Milwaukee Bucks e Orlando Magic, quinta partida do primeiro round dos playoffs da NBA, porém, momentos antes da partida começar os jogadores do Bucks anunciaram um boicote ao jogo em protesto ao assassinato de Jacob Blacke, jovem baleado sete vezes nas costas pela polícia em Kenosha, Wisconsin, mesmo estado da cidade da franquia da NBA. O Orlando Magic poderia se aproveitar do boicote e ganhar o jogo por W.O., mas a franquia anunciou que também iria aderir ao boicote e o jogo foi suspenso.

Logo o boicote gerou grande repercussão, e os demais times que jogaram na quarta-feira também aderiram ao boicote, sendo assim os jogos Rockets x OKC e Lakers x Portland também foram adiados. Antes do Bucks anunciar o boicote já rodavam boatos que o Toronto Raptors, que jogaria na quinta-feira contra o Boston Celtics pelo primeiro jogo das semifinais, iriam boicotar o jogo também em protesto ao assassinato. A NBA também adiou os jogos da quinta-feira e sexta-feira por conta do boicote. Muita gente não está entendendo como isso se deu, e para entender é preciso voltar um pouco no tempo.

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A temporada 2019/2020 da NBA iniciou no dia 22 de outubro de 2019, tudo ia acontecendo normal até a pandemia do coronavírus, quando a liga foi interrompida no dia 11 de março de 2020 por tempo indeterminado. Nesse tempo de paralisação e de pandemia muitas coisas aconteceram, Inclusive os protestos #BlackLivesMatters por conta do assassinato brutal de George Floyd. As manifestações foram de grande repercussão nos Estados Unidos, sendo o maior protesto nas ruas desde o assassinato Martin Luther King, e em meios protestos e manifestações, na linha de frente estavam alguns jogadores da NBA. Foram realmente muitos que se manifestaram e foram às ruas, mas posso aqui destacar nomes importantes (que ainda citarei mais para frente) como Kyrie Irving (jogador do Brooklin Nets), Giannis Antetokounmpo (jogador do Milwaukee Bucks), Russell Westbrook (jogador do Houston Rockets), Jaylen Brown (jogador do Boston Celtics), entre muitos outros.

Os protestos pareciam estar fora do controle das autoridades estadunidenses, que pelo tom dos seus discursos, percebíamos que estavam desesperados. Em uma tentativa de adotar a filosofia do “pão e circo” e alegando que teria um prejuízo de bilhões de dólares caso a temporada não terminasse, a NBA resolveu retomar a temporada 2019/2020, mesmo com os EUA pegando fogo por conta dos protestos e não estando ainda nem no pico da curva de contaminação de coronavírus no país. Para ser mais seguro para os jogadores e demais profissionais, a liga adotou um esquema de bolha. Na bolha da NBA atletas e comissão técnica de todas as equipes participantes estão separados do restante do mundo no complexo da Disney, com quadras e hotéis reservadas apenas para a liga. Dos 30 times da NBA, 22 ingressaram na bolha, a maioria dos seus astros também aderiu ao esquema, alguns ficaram de fora por contusão, outros por motivos pessoais. Um dos que ficou de fora, por conta de uma contusão, foi Kyrie Irving, que desde o início da ideia da bolha foi bastante crítico, dizendo que a liga não deveria voltar enquanto pessoas negras estavam sendo assassinadas nas ruas. Irving entendeu, a NBA voltaria com a intenção de tentar acalmar os ânimos e mudar o foco das notícias e conversas nos EUA, o jogador até falou sobre boicote à liga em alguns momentos, e ironicamente, ele foi rechaçado por inúmeros de jornalistas que taxavam a ideia de ilusória e sem noção. Outros jogadores se juntaram ao Kyrie às manifestações contra o retorno da NBA, como Dwight Howard, jogador já renomado e peça importante do Los Angeles Lakers, que a época disse:

– Eu adoraria ganhar meu primeiro campeonato da NBA. Mas a unidade do meu povo seria um campeonato ainda maior. Isso é muito bonito demais para deixar passar. Quer melhor hora do que agora para nos concentrarmos em nossas famílias?

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Mesmo com vários jogadores importantes contra o retorno, no dia 30 de julho de 2020 a bola ia ao alto mais uma vez na NBA, dessa vez sem público, isolados na Disney e incendiados pelos protestos contra o racismo. A liga liberou algumas manifestações durante os jogos, como faixas e a #BlackLivesMetter nas camisas dos jogadores. Os jogadores mais engajados continuavam falando sobre isso nas entrevistas, muitos nem falavam sobre o jogo como uma forma de protesto. Por mais que eles falassem e chamassem a atenção da população, parecia não mudar em nada o cenário estadunidense, jovens negros ainda sendo assassinados nas ruas diariamente. Mesmo que jogadores de basquete não tenham a obrigação de serem as principais vozes do ativismo negro, eles continuam tomando a linha de frente. A gota d’água foi o assassinato de Jacob Blake, que aconteceu dia 23 de agosto, cinco dias depois aconteceu o boicote. Começou com boatos do time do Toronto, foi executado pelos jogadores do Bucks, e aceito por demais times da liga, se estendendo para outros esportes do país, na mesma noite as partidas da WNBA, liga feminina da de basquete do país, não aconteceram por apoio ao boicote. Outras ligas também tiveram seus jogos cancelados: a MLS, liga de futebol, e a MLB, liga de beisebol.

Muito se foi especulado, de quem tinha vindo a ação, como a liga lidaria com isso, se a temporada iria acabar. Bem, a ação é notável que foi dos jogadores, tanto que no dia do boicote o dirigente do Bucks disse que não sabia que isso aconteceria, mas que apoiava os jogadores que estavam fazendo. Os dirigentes da NBA já se mostraram contra os boicotes e dão espaços para os jogadores protestarem desde que não atrapalhe a liga, ou fique polêmico demais. O fim de tarde e noite da quarta-feira veio com uma enxurrada de informações. Na quinta-feira, com os ânimos mais calmos, aconteceram reuniões. Em uma delas, com os dirigentes da liga e das franquias, foi votado pela continuidade dos playoffs, apenas Los Angles Clippers e Los Angeles Lakers se mostrando a favor da interrupção permanente da temporada. LeBron James, astro dos Lakers, principal jogador da liga atualmente e contante voz política, já se declarou a favor dos boicotes e do fim da temporada. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também se pronunciou sobre os boicotes da NBA:

– Não sei muito sobre os protestos da NBA, sei que suas avaliações têm sido muito ruins porque acho que as pessoas estão um pouco cansadas da NBA. Eles viraram uma organização política e isso não é uma coisa boa. Não acho que seja uma coisa boa para o esporte ou para o país.

Os boicotes conseguiram chamar a atenção e escancararam o problema, não só o racismo, mas também que a NBA voltou a ativa para tirar a atenção dos protestos e mascarar o que acontece nos EUA. Mesmo assim, não parece que os protestos irão para frente. Em uma declaração conjunta da NBA e NBPA (Associação de Jogadores da NBA) lançada nessa sexta-feira, 28 de agosto, foi anunciado que os jogos retornarão a partir deste sábado, 29 de agosto. 13 franquias ainda disputam o título da NBA, mas certeza que nossa atenção estará atenta não só para o que acontece em quadra, mas também para os desdobramentos dos acontecimentos quando o relógio não está rodando.

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