Kenya Barris é conhecido por sua principal obra, a série Black-ish e os spin-offs do show, Grow-ish e Mixed-ish. Seu nome ficou bastante falado em 2019 quando assinou um contrato para uma série encomendada original Netflix, todos ficaram curiosos e ansiosos com o que esteria por vir. A série é criada pelo roteirista e produtor, e além de Kenya, a produção executiva conta com Rashida Jones, que também protagoniza a série.
A história é inspirada na própria experiência da vida do autor, que estreia como ator aqui. Tem uma família composta por seis filhos e um casamento irreverente e altamente imperfeito. A série é uma visão contemporânea sobre paternidade, relacionamentos, raça e cultura. A verdade é que em #blackAF Kenya está em seu lugar seguro, falando sobre uma família negra que conseguiu ascender socialmente e todos da família são imperfeitos (coloque imperfeitos quando se trata dos personagens dessa série). A série é uma região tão segura para o autor que em alguns momentos parece ficar confuso se aquele conteúdo é realmente original.
#blackAF claramente faz uma homenagem a obra que elevou o nome do escritor, mas em alguns momentos essa homenagem ultrapassa os limites, que para quem já assistiu Black-ish, percebe que o protagonista Dre é claramente uma versão do seu criador, assim como a esposa e seus 6 filhos. Não é só nisso em que as séries se encontram, os momentos de um discurso mais sério e explicativo sobre como até hoje os negros sofrem por conta da escravidão, são idênticos. Alguns problemas nos debates das séries também se repetem, como quando falam sobre colorismo (lembrando que esse debate nos Estados Unidos é diferente ao debate no Brasil), feminismo ou rede de apoio entre artistas negros.

Mas #blackAF não é só uma cópia não proposital de Black-ish, também traz coisas interessantes e diverte.
A série é em um dos formatos que acho mais interessantes para se construir uma comédia, o falso-documentário. Na narrativa, Drea, umas das filhas de Kenya na série, está fazendo esse documentário sobre a família como inscrição no curso de cinema da NYU.
A montagem é um dos pontos altos da série, que intercala os acontecimentos com as entrevistas dos familiares para o documentário. As trasições são feitas forma moderna, colocando o rito necessário para o episódio.
A trilha sonora, apesar de tímida, não fica pra trás, trazendo, claro, influencias do hip-hop e ajudando no ritmo dinâmico da série. Apesar de ser seu primeiro trabalho como ator, Kenya nos entrega um bom resultado, não deixando ser apagado pela atuação da co-estrela Rashida Jones, que despensa apresentações.
#blackAF não é o melhor trabalho de Kenya, mas pode ser uma trabalho que vai alavancar ainda mais sua carreira. É uma comédia divertida, e em alguns momentos ácida, podendo tocar na ferida de muitas pessoas (principalmente se você for branco). É uma série curta, apenas 8 episódios, e facilmente maratonável. Se você conseguir relevar os problemas em alguns debates da série, ela se torna um momento de diversão e distração para quem assiste.