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Precisamos falar e refletir sobre o cinema brasileiro

Podemos dizer que 2019 foi um importante ano para o cinema brasileiro, com Bacurau enchendo salas de cinema e sendo falado por todo o mundo, Democracia em Vertigem sendo sucesso na Netflix e disputando o Oscar de melhor documentário, e o longa Sócrates conquistando prêmios em festivais.

Podemos dizer que 2019 foi um importante ano para o cinema brasileiro, com Bacurau enchendo salas de cinema e sendo falado por todo o mundo, Democracia em Vertigem sendo sucesso na Netflix e disputando o Oscar de melhor documentário, e o longa Sócrates conquistando prêmios em festivais. Foi no final do ano de 2019 a ANCINE lançou o Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro e 2018, através do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA). O anuário traz bastante informações relevantes para se pensar no que está sendo exibido e consumido nos cinemas brasileiros. Me debrucei em analisar esse anuário algumas vezes, principalmente na parte em que ele traz as principais bilheterias de 2018. O link do anuário estará disponível no final dessa matéria para quem quiser conferi-lo na íntegra.

Os dados do Anuário Estatístico fazem o recorte da série entre 2009 e 2018 para fazer o comparativo. O filme de maior público de 2018 foi Vingadores: Guerra Infinita, com mais de 14 milhões de ingressos vendidos. Já no cinema brasileiro, a maior bilheteria foi Nada a Perder, com um público de mais de 12 milhões no ano. Trazendo o comparativo de 2009 até 2018, a arrecadação do cinema no Brasil cresceu consideravelmente. Em parte, pelo crescente de pessoas que vão ao cinema, mas também, pelo grande aumento no valor dos ingressos (que subiu quando 100% do seu valor nesse intervalo de tempo).

Fonte: ANCINE

No ano de 2018 três filmes brasileiros ficaram entre as maiores bilheterias no Brasil, são eles: Nada a Perder, Os Farofeiros e Fala Sério, Mãe!, todos distribuídos pela Downtown/Paris. Exceto esses três filmes brasileiros, todos os outros 17 filmes são produções estadunidenses, mas são os filmes brasileiros que me interessam nessa análise. O Anuário traz uma tabela das 20 maiores bilheterias do cinema nacional em 2018, entre eles apenas dois têm protagonistas negros: Os Farofeiros e Detetives do Prédio Azul 2 – O Mistério Italian. O primeiro se trata de uma comédia em que quatro famílias de classe média baixa alugam uma casa de praia, mas acabam encontrando problemas por lá. O filme traz uma comédia estilo Vai que cola, o próprio nome do filme já traz o estereótipo que ele representa do negro pobre, barraqueiro e farofeiro. Já DPA 2, trata-se de um filme infantil que deriva de uma série do mesmo nome: três amigos inseparáveis que moram no mesmo edifício formam o D.P.A, Detetives do Prédio Azul. É importante que as crianças tenham uma representatividade dentro dos programas que assistem, mas nem tudo é elogios dentro dessa representatividade. Na série do D.P.A. existem duas gerações de detetives (afinal, crianças crescem), na primeira geração o menino negro é o Capim, justamente ele não é morador do prédio, mas filho do porteiro. Caindo mais uma vez no estereótipo de que a criança negra é filha do empregado e não tem um lugar para ser legitimamente daquele lugar.

Chegando no recorte das maiores bilheterias do cinema nacional entre 2009 e 2018, dois filmes de 2018 entraram na lista: Nada a Perder e Os Farofeiros. O primeiro, inclusive, conquistou o primeiro lugar da lista, sendo seguido por Os Dez Mandamentos – O Filme, de 2016 (formando a milagrosa dupla de filmes que tiveram bilheteria esgotada e salas esvaziadas). Mais uma vez, apenas dois filmes em uma lista de 20 Têm protagonismo negro: Vai que Cola – O Filme, de 2015 (sendo a 15ª maior bilheteria) e Os Farofeiros, de 2018 (sendo a 20ª maior bilheteria).

Fonte: ANCINE

Outra coisa que podemos analisar é sobre os locais que têm acesso ao cinema. 31,1% das salas de cinema encontram-se no estado de São Paulo, contabilizando 1.041 salas. Em segundo lugar vem o estado do Rio de Janeiro com 11,1%, ou seja, 373 salas. De um estado par ao outro vemos uma grande diferença da quantidade de salas, mesmo sendo dois estados que concentram grandes mercados. A diferença fica mais gritante quando vista por região, os cinco últimos estados da lista são do norte do país: Rondônia, com 0,6%; Tocantins, com 0,5%; Amapá, com 0,5%; Roraima, com 0,4%; e Acres, com 0,2% (tendo apenas 8 salas de cinema em todo o estado). O Brasil atualmente tem 62.293 habitantes por sala de cinema, sendo comprovado por dados anteriores, quem nem todos os habitantes têm acesso a essas salas de cinema. No Brasil, 88,9% das salas de cinema se encontram em Shoppings Centers, apenas 11,1% resistem como Cinema de rua.

Infelizmente o Anuário não traz dados sobre diretores e demais profissionais que estão no mercado cinematográfico, então não podemos fazer essa análise da distribuição de raça e gênero dentro das produções. Porém os dados apresentados são importantes para vermos como a relação do público com cinema brasileiro ainda está aquém da relação com o cinema norte-americano. Além disso podemos perceber que apesar dos crescentes debates sobre representatividade, pelo menos racialmente falando, esses debates ainda não chegaram às telas do cinema brasileiro.

Veja o Anuário completo em: https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/anuario_2018.pdf

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