
O dia 25 de julho é uma data de extrema relevância para as mulheres negras, ainda que poucos saibam. Hoje, a data celebra o dia das Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas – no Brasil, a data é conhecida como o Dia de Tereza de Benguela. Pensando nisso, a equipe do Cultura Preta não poderia esquecer esse dia tão importante para nós, povo preto.
Marina Fernandes
Após uma sequência de postagens no blog com o intuito de exaltar o poder da mulher negra e de mostrar que estamos em diferentes lugares, diferentes cargos e que a nossa ocupação nos espaços é de extrema importância, hoje reflito, com uma abordagem mais crítica, sobre a situação em que a mulher negra se encontra na sociedade.
Para falar desse dia tão importante é necessário lembrar que o dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, não consegue abranger, em sua totalidade, as necessidades, lutas e reivindicações de todas as mulheres. Entre estas mulheres, estamos nós, as mulheres negras, uma vez que a forma com que o reconhecimento das mulheres se dava no momento histórico em que a data foi criada não nos abrangia. As mulheres brancas – apesar de suas dores – tinham privilégios que as negras não possuíam, que estão arraigados até hoje na nossa sociedade. É importante lembrar que a mulher negra não estava inserida na mão de obra do trabalho das fábricas naqueles tempos como a mulher branca. As negras já estavam saindo de suas casas para trabalhar antes mesmo das mulheres brancas terem esse direito.
É uma história que foi – e ainda é – ignorada pela sociedade, pois a luta da mulher negra é contínua e pouco se sabe sobre ela. Temos na história grandes mulheres negras que são símbolos para o movimento feminista negro, mas que não são contempladas assim como as embaixadoras do feminismo – branco – que tanto tem voz.
Não é uma questão de separar mulheres negras e mulheres brancas, pois, de fato, somos todas mulheres. A questão é: reconhecer as causas umas das outras, em suas necessidades e especificidades. Por isso, o feminismo negro é de extrema importância, pois mulheres negras não estão tão presentes em coletivos feministas de mulheres, por exemplo. Essa realidade se dá pelo simples fato de que nós, mulheres negras, não estamos, de forma equivalente, nos mesmos espaços que as mulheres brancas – a conquista desses lugares se deu recentemente. Nós não nos sentimos representadas por esse movimento.
Levantar a bandeira de que nós somos mulheres, que somos iguais, é muito fácil para aquelas que, mesmo sendo mulheres, usufruíram por toda a vida dos privilégios de serem brancas, enquanto as mulheres negras não o fizeram. Fazer com que entendam a causa das mulheres negras é uma luta a ser travada. É necessário entender e incorporar no movimento a ideia de que existem especificidades que ainda não são contempladas, compreendendo o fato de que mulheres brancas não passaram pelas mesmas vivências que nós passamos.
É importante definir que a luta das mulheres, em geral, ainda não representa as mulheres negras. É importante saber que as mulheres negras lutam por causas diferentes, têm pautas diferentes. É necessário que o movimento feminista saiba que as mulheres negras precisam do espaço de fala e que uma vertente para as negras seja valorizada e lembrada. É importante entender que a mulher negra, por muito tempo, não foi vista e ouvida pela sociedade – e por isso, o 8 de março não foi feito para mulheres negras. O 8 de março não nos representa.
O dia 25 de julho está marcado na história desde o primeiro encontro de mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, no ano de 1922 em Santo Domingo, na República Dominicana. Este evento teve como objetivo realizar a criação da Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, definindo que esta data seria marcada como o dia dessas mulheres.
No Brasil, a lei nº 12.987/2014, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff, delimitou este dia como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher negra. A lei homenageia Tereza de Benguela, líder quilombola que viveu durante o século 18. Ao constatar a morte de seu companheiro, Tereza se tornou a rainha do quilombo. A quilombola lidera, assim, a comunidade negra e indígena que ali habitavam, e as duas populações resistiram juntas à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770. Neste ano, o quilombo foi destruído pelas forças de Luiz Pinto de Souza Coutinho, e a população de 79 negros e 30 indígenas foram mortos e aprisionados.
Atualmente, sabe-se que a condição das mulheres negras na sociedade ainda não é bem representada. As mulheres negras não se encontram em grandes cargos nas empresas, tampouco se destacam na mídia televisiva, não são vistas na cena do hip hop brasileiro – e em outros gêneros da música –, nem são celebradas no meio da moda. As mulheres negras estão sujeitas a possibilidade de não alcançar o privilégio de alcançar os patamares bem vistos no âmbito social, estando em um ciclo de ocupação de posições “menos favorecidas”, como cargos subalternos.
25 de julho é um dia para lembrar da existência das negras que tanto são invisibilizadas em todos âmbitos – acadêmico, empresarial, social e muitos outros. É para lembrar que estas mulheres resistem desde sempre, e que o Dia da Mulher Negra não se limita apenas ao dia 25 de julho, mas se estende a todos os dias do ano. As mulheres negras merecem reconhecimento e visibilidade.
A luta são todos os dias e, até que nossos objetivos sejam alcançados, não vamos parar.