Entrevistas Musica

Conheça Gabriellê e seu novo trabalho a faixa “Oxitocina”

Cantora chega com novo single e da entrevista exclusiva ao CP sobre o novo trabalho.

A cantora, compositora e aspirante a produtora musical Gabriellê, lançou nesta quinta (12) o videoclipe do seu terceiro single, ‘Oxitocina’, com produção da Diabelsmusic, e a inspiração para a composição da letra, veio das reflexões da artista sobre os vários bloqueios emocionais que, enquanto seres humanos desenvolvemos ao longo da vida, confira:

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Para o elenco do clipe ela convidou duas mulheres pretas que admira muito, que são Gabriela Leopoldino e Michelle Rainer, sendo Michelle sua minha irmã e também a designer que criou a arte de capa do single. O videoclipe foi gravado em sua casa, em Americanópolis, zona Sul de São Paulo, tanto devido ao isolamento social, quanto pela questão de recursos financeiros. A produção de arte foi de Mayara Durães, que é amiga de Gabriellê, e como ela conta o cuidado e atenção que ela teve com tudo foi importantíssimo para o resultado. A JS Filme foi responsável pela fotografia e colaboração na construção do roteiro juntos, que também contou com Durães

Diretamente da zona sul de São Paulo, este é apenas seu terceiro single e o primeiro de 2020, em entrevista exclusiva para o CP, falamos sobre sua carreira, o novo som e outros assuntos, confira:

1. Como foi seu primeiro contato com a música? “O meu primeiro contato com a música foi dentro de casa. Minha família sempre foi muito musical, meu pai toca violão e canta e tenho várias lembranças da minha infância onde eu o admirava e cantava junto com ele. Me lembro que nosso repertório sempre tinha Djavan, eu particularmente sempre pedia pra ele tocar “Flor de Lis”. Além disso, minha mãe sempre ouviu muita música no dia a dia, e juntando o gosto do meu pai por música brasileira e rap e o gosto eclético da minha mãe, eu cresci ouvindo de tudo, principalmente pagode, samba, MPB, rap, axé e…Michael Jackson! Minha mãe era muito fã do Michael Jackson, ela tinha uma fita com videoclipes dele e eu e minha irmã assistíamos praticamente toda semana.”

Cantora Gabriellê Foto: Mel Gomes

2. Conte sobre o processo criativo do clipe ao lado de pessoas tão próximas e queridas como sua irmã? “Essa irmã é a Michelle, tenho mais um irmão e outra irmã. A Michelle que era minha cúmplice de coreografias do Michael na infância, também foi minha parceira agora no clipe de Oxitocina. Quando surgiu a ideia de convidar outras mulheres pretas pra participarem do clipe, logo me veio a ideia de chamá-la. Ela cursou técnico em teatro na Etec de Artes, é uma artista visual incrível, além de também fazer alguns jobs como modelo. Ter ela participando desse clipe fez com que deixasse o processo e o resultado ainda mais especial pra mim. Afinal, acho que na nossa infância quando assistíamos e tentávamos imitar o clipe de “Remember The Time” jamais nos imaginaríamos gravando um clipe, e juntas! Para a direção de arte eu convidei uma amiga que é uma artista incrível também, a Mayara Durães. A experiência dela com produção de arte, montagem e cenografia foi indispensável pro resultado que chegamos no clipe. Ela foi muito cuidadosa com os detalhes, e também, com o conceito que construímos juntas, de cores, sensações, ambientes. Foi a nossa primeira vez trabalhando juntas e eu espero que tenha várias outras. A outra convidada é Gabriela Leopoldino, uma amiga que conheci quando frequentava a Batalha Dominação, ela está cursando pedagogia e trabalha como trancista. Ou seja, só maravilhosas. Rsrs Mulheres pretas que estão fazendo o seu corre e que admiro muito. Foi uma honra imensa tê-las nesse processo comigo.”

3. Como veem sendo o corre independente na música? “O corre com a música tem sido múltiplo. Quando comecei a estudar canto popular, com 15 anos na Etec de Artes, eu não imaginava ainda que poderia viver de arte. Mas lógico, eu só tinha aquela ideia de artistas que vemos na televisão. Em pouco tempo estudando, comecei a dar aulas de canto e depois de musicalização para ter uma renda e desde então, não parei mais de dar aula de música. Paralelo a isso, também tenho meu trabalho como arte-educadora. Daí entram as questões financeiras, eu componho desde os 16 anos, mas gravar foi algo que adiei por falta de recursos. Até que lancei os meus primeiros singles ano passado, e a ideia agora é não parar mais. Quando digo que meu corre com a música é múltiplo, é por ter que ter no mínimo dois empregos para conseguir investir na minha carreira. De segunda à sexta, eu trabalho em dois projetos diferentes como educadora de música, e agora, aos finais de semana estou começando a produzir algumas músicas no meu projeto de home studio. Tenho trabalhado bastante, e é incrível aos 24 anos eu conseguir me manter com música, mas também não tenho uma visão romantizada do que enfrentamos como artistas independentes. Sempre temos que trabalhar muito mais pra conseguir arcar com nossas contas, aluguéis e ainda investir no nosso trampo artístico.”

Cantora Gabriellê Foto: Mel Gomes

4. Quais as maiores dificuldades para produzir principalmente neste período de pandemia? “Se sem a pandemia já é difícil se produzir de forma independente, acredito que a pandemia acentuou isso. Tive que parar alguns projetos e retomei só agora mais para o fim do ano. O single “Oxitocina” mesmo, é uma faixa que comecei a produzir por volta de fevereiro e quando chegou a pandemia, eu, como a maioria, me vi forçada a parar os processos musicais que estavam em andamento. Retomei o processo por volta de agosto, quando fui na casa do produtor musical, Diabelsmusic, gravar a voz da faixa. Me considero com “sorte” por ter também a renda das aulas que eu dou, porque se eu dependesse só dos shows eu sei que a situação estaria bem mais difícil.”

5. Seu último trabalho audiovisual foi a faixa “Fúria”, conte como foi usar a música para falar sobre a violência contra a mulher? “Fúria”…. Eu gostaria de não ter composto essa música. O motivo é óbvio, ela não existiria se não vivêssemos num mundo onde as taxas de feminicídio são altíssimas e o descaso com essas mortes, e também com os casos de estupros e violência doméstica são enormes. Eu me lembro de quando compus essa faixa, estava prestes a sair de casa e a TV estava ligada num jornal. Estava passando a notícia de mais um caso de estupro seguido de feminicídio. Eu saí de casa com essa notícia na cabeça, e enquanto eu caminhava na rua me questionava: ” E se fosse ao contrário? Se fosse o corpo de um homem encontrado no chão ensanguentado? Será que haveria comoção por parte das pessoas?”. Em seguida comecei a letra, imaginando uma história onde uma mulher matou um homem em legítima defesa. Fiz essa música me questionando o quanto, infelizmente, as pessoas se “acostumam” com esse tipo de notícia. Tivemos o caso recente onde o juiz declarou “estupro culposo” e isso revoltou milhares de pessoas (e isso é de fato inaceitável e revoltante), mas diariamente mulheres são violentadas, e o que vemos em relação a isso? Dentre centenas de casos, alguns viralizam e viram assunto, até vir os próximos. E esse ciclo de violência é muito cruel, não só falando da vítima especificamente, mas também cruel com nós receptoras dessas notícias. Que tipo de mundo é esse que vivemos? Sempre me questiono. Eu, como outras mulheres, já pensei em andar com faca ou spray de pimenta porque não me sinto segura nas ruas. Mas em seguida também lembro que sou preta e que se for enquadrada, podem não acreditar que eu estava com isso para legítima defesa.”

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6. Como está a expectativa com o lançamento de “Oxitocina”? “Oxitocina” é uma faixa que gosto muito, conta com a produção musical do Diabelsmusic, que é incrível, e eu espero de verdade que as pessoas sejam tocadas por esse som. É gostosa a sensação de se apaixonar, de desejar alguém, de ser desejada e de se permitir. A música fala sobre esse desejo, que acredito ser além do carnal, mas também espiritual. Em qualquer relação estamos trocando energia. O nosso corpo reage e nosso espírito também. Quando me veio essa palavra “Oxitocina” estava justamente pensando nas reações químicas do nosso corpo, o quão interessante é nosso corpo liberar tais hormônios em momentos específicos. A oxitocina, ou ocitocina, é um dos hormônios responsáveis pelo prazer, pela felicidade e também pela criação de vínculos emocionais. Quando o corpo fala, a gente tem que ouvir né? A música é sobre isso, se entregar para os nossos desejos. Acho que ela seria uma boa trilha de novela (risos).

7. Quais seus planos para a música neste ano de 2020? E já tem planos para 2021?

2020 foi um ano que apesar das dificuldades, pelo nosso contexto atual, eu consegui tirar alguns planos do papel. Comecei a estudar produção musical, vendo tutoriais na internet, juntando com a base de vivências que eu já tinha e comprei alguns equipamentos para o que quero que seja um home studio. Até agora eu tenho uma placa de som e um microfone condensador, o que já dá para gravar vozes. Pode parecer pouco, mas pra mim já foi um passo enorme. Pensava que estava muito distante disso acontecer, mas vi que me organizando eu consigo comprar os equipamentos aos poucos. Esse ano meu primeiro trabalho como produtora foi ao mundo e isso me deixou muito realizada. Produzi o single “Joia Rara” da poeta e MC Jade Quebra, um funk que fala sobre a gente se cansar dos dias de luta e também querer vivenciar os dias de glória. Em 2021, a previsão é o lançamento do meu primeiro álbum. Já estou em produção de algumas faixas, e estou MUITO animada com a ideia de lançar um CD!  É um daqueles sonhos de criança, que eu não sabia se ia acontecer, e que até pouco tempo atrás me parecia impossível. Agora, eu já sei que vai se realizar. Então, 2021 tem lançamento do meu primeiro disco! Mal posso esperar.

Voce pode ouvir Gabriellê e varias outras cantoras do cena na playlist “Só as Mina”, disponivel no Spotify.

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