Entrevistas Musica

Cultura Preta entrevista: Loyrd

Loyrd MC fala sobre as multifacetas do artista em entrevista concedida para o site Cultura Preta.

Loyrd MC em entrevista concedida para o site Cultura Preta, comemorando o mês de lançamento do som “Tragicomédia Brasileira”, fala sobre ser multifacetado, a trajetória de encontro com seu eu poeta, processos criativos, produção cultural, denúncias sociais e deixa mensagem. Boa Leitura!

“A brasa virou chama e não coube mais dentro de mim, foi o incêndio existencial que fez o Loyrd ressurgir das cinzas, pois, de alguma forma, o Loyrd sempre existiu em mim.

Quem é Loyrd Mc? Existem semelhanças e diferenças entre ele e Lucas Yago?

Bom, inicialmente, pra responder a esta pergunta, eu acho importante entender de onde o nome “Loyrd” surgiu.

Para quem me conhece, sabe que as iniciais do meu nome próprio são: “L” (Lucas), “Y” (Yago), “R” (Rodrigues), “D” (Duarte) e que se junta-las, forma-se “LYRD”. Quando eu estava cogitando meu nome artístico, eu refleti sobre um que pudesse fazer parte de mim e ao mesmo tempo que representasse algo maior que eu mesmo. Diante disso, a ideia de tornar-me o “Loyrd” apareceu quase que espontaneamente. Confesso que eu fiquei com um pouco de receio desse nome, pois sonoramente, soa como o mesmo nome artístico de Lord (MC integrante do grupo ADL – Além da Loucura). Porém, depois de muita reflexão, eu cheguei à conclusão de que a complexidade por trás do nome “Loyrd” vai muito além de qualquer crítica possível a esse singelo detalhe e que não existe outro Loyrd como eu, assim como não há um outro Lord como o do ADL.

Portanto, o surgimento do nome artístico “Loyrd” ocorreu em meio a diversas reflexões sobre algo que pudesse integrar um sonho individual a um sonho coletivo, comunitário e solidário, por outro lado, Loyrd é grito preso na garganta dos oprimidos e a voz daqueles que nunca puderam falar…

Metafóricamente, assim como o Deus cristão é Pai, Filho e Espírito Santo ao mesmo tempo, eu sou Lucas Yago e Loyrd simultaneamente. Seguindo a mesma lógica, Loyrd e Lucas, apesar de não serem o mesmo personagem em diferentes espaços, lugares, ocasiões, vivências, etc. ambos são o mesmo ator (acho que deu pra entender, rsrsrsrsrs’).

Contudo, existem sim, semelhanças e diferenças entre Loyrd e Lucas, mas como diz Rashid na faixa “Tão real” de seu Álbum com mesmo nome:

“… feridas só são vistas se eu anoto minhas lágrimas num bloco de notas: Denotam minhas raízes da lama igual lótus, faz cada track ser tão real que meu álbum podia ser um álbum de fotos! Com retratos de dias que me modelam, mas não fotos reveladas, fotos que revelam: Que o zica memo é o Michel e até espanta, porque ele vive essas coisas tudo aí que o Rashid só canta!” Tão Real

Trocando Rashid por Loyrd e Michel por Lucas, faço das palavras dele, as minhas.

O que te inspira nas criações?

Minha inspiração não é única, é diversa. Ou seja, são inspirações. É como se a minha criatividade fosse renovada a cada novo dia, sempre diferente e carregada de emoção. Particularmente, eu sou o tipo de poeta, compositor e escritor que tem dificuldade de escrever sem emoção, por isso que sempre haverá vivências profundas em minhas criações. Acredito que assim como os alimentos, as palavras também não podem ser desperdiçadas e usadas de qualquer forma, até porquê as palavras também têm o poder de nutrir, mas assim como muitos vegetais, se não souber a medida, a dosagem e a forma como usar, podem passar de alimento para veneno. E é por isso que nós temos um relacionamento profundo de respeito e intimidade.

Como se deu o processo de desenvolvimento da sua poesia?

Eu escrevo desde muito pequeno… Inclusive, nunca esqueço de um dia na escola, ainda nos primeiros anos do Ensino Fundamental, em que nossa professora pediu para que nós escrevêssemos uma breve história baseada do que estávamos aprendendo na época… Eu me lembro que nós ainda estávamos aprendendo a escrever com letras cursivas e o título da minha história foi “A Raposa e o Leão”, o enredo da história eu não me lembro exatamente, mas lembro do elogio da professora que disse a mim que a história estava muito interessante, que eu era muito criativo e que eu não deveria parar de escrever…

Bom, acatei o conselho… Ao longo da minha adolescência eu fui aperfeiçoando a prática, lendo livros, escrevendo poesias por hobby e nesse período recebi diversas críticas construtivas e também críticas que só serviram para me desmotivar… Quando entrei na fase adulta, por diversos motivos, trágicos e de alguma forma necessários para meu amadurecimento pessoal, a escrita foi ficando em segundo plano, a poesia também e por alguns anos, meu eu poeta descansou…

Isso começou a mudar em meu ingresso à universidade… Meio que eu tive que voltar a desenvolver a minha escrita na marra ou se não eu teria muitas dificuldades na academia. Foi nesse contexto que a brasa poética que há dentro de mim começou a receber combustível de diversos âmbitos da minha personalidade, da vida em sociedade e do relacionamento com as pessoas, até que a brasa virou chama e não coube mais dentro de mim, foi o incêndio existencial que fez o Loyrd ressurgir das cinzas, pois, de alguma forma, o Loyrd sempre existiu em mim.

O que significa para você expressar-se através do rap?

Expressar através do Ritmo e Poesia, pra mim, é retomar o grito denúncia inaugurado nas letras de Rap pelos Racionais MC’s nas décadas de 80/90. Para mim, digo como Loyrd, artista, o rap é a própria causa social manifesta pelo som. Eu não consigo dissociar uma da outra, entende?

Por isso, eu concordo com uma frase cantada pelo Rashid na primeira parte da cypher Poetas no Topo 3.3 em que ele diz:

“O que rap tem a ver com causa social? Aí é foda, tem você que não entende de nenhum dos dois”.

Digo isto, pois o próprio Hip Hop surgiu de uma causa social, como uma causa social e para a discussão sobre causas sociais.

Nesse sentido, expressar-me através do rap é muito mais do que uma questão melódica e profissional, é a escolha consciente de um mecanismo de protesto e desabafo.

“Expressar-me através do rap é muito mais do que uma questão melódica e profissional, é a escolha consciente de um mecanismo de protesto e desabafo.”

Como foi lançar “tragicomédia brasileira”? Por onde passou o percurso da produção?

A “Tragicomédia Brasileira” é uma obra de mensagem. Posto que todo artista, creio eu, é um ser multifacetado. Digo que o Loyrd não é diferente e, esta música, meu primeiro single, é a expressão de uma destas facetas. É a faceta revoltada e rebelde do Loyrd…

Esta produção musical percorreu vários caminhos para chegar nesse resultado final que as pessoas veem como finalizado… Passou tanto por trilhas de dor quanto de esperança, por vales sombrios de dúvidas que levaram à questionamentos necessários para a descoberta da coragem como virtude…

Tragicomédia Brasileira é um primeiro passo, um alarde e uma tentativa de direcionar o nosso foco para a situação atual do nosso país, é a investida no discurso que desmascara toda trama governamental que têm, a cada dia mais, buscado maquiar a realidade com falácias que soam como piadas, mas que são trágicas para a maioria dos brasileiros.

Quais as reverberações pós encontro com o público que atravessaram sua arte?

Bom… Acho que ainda é um pouco cedo para ter uma resposta abrangente sobre esta pergunta pelo fato de eu ainda estar engatinhando nessa trajetória como MC… Porém, eu acredito que desde o lançamento de “Tragicomédia Brasileira”, têm acontecido muita coisa nova na minha vida e tenho vivenciado diversos afetos. Por exemplo, de acordo com o público que me escutou até hoje, eu posso dizer que o Loyrd foi muito bem acolhido, tanto pelos ouvintes de Rap, quanto pela cena Hip Hop. Acredito nisso, não apenas pelos elogios e pela força que eu tenho recebido, mas também pelas portas que vêm se abrindo para mim. E hoje, eu posso dizer que, mesmo inicialmente, eu já tenho mais pessoas que lutam por mim e comigo do que o contrário. Isso é gratificante e me sinto lisonjeado por cada pessoa que está fortalecendo minha caminhada como rapper, poeta e compositor. Todavia, penso que meu relacionamento com o público está começando agora e que o Loyrd ainda não mostrou 1% do que ele ainda deseja demonstrar. O melhor ainda está por vir…

Qual recado você deixaria para as Pretas e os Pretos que estão te acompanhando?

Primeiramente, a minha mais sincera e profunda gratidão, é tudo por nós e para nós…

O meu recado para todos nós é como o vento, leve e impetuoso ao mesmo tempo: acredite em você, ame a sua vida, não desista dos seus sonhos, quaisquer que sejam eles e coloca uma coisa dentro da sua cabeça e no profundo do seu coração: é possível ser quem você quer ser, apenas seja e retire das cinzas o seu “eu” sufocado. Eu acredito em você!

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