Mulheres Negras na Fotografia

Mulheres Negras na Fotografia: Pamela Santos

Olá, como estão? Já faz um tempo desde a minha primeira entrevista que realizei aqui no Cultura Preta junto com a Larissa Gomes. Espero que tenham gostado de conhecê-la, e que já estejam acompanhando o trabalho dela nas redes sociais. Afim de continuar esse quadro entrevistando mulheres negras na fotografia, hoje trago uma amiga querida, conhecida como Pamela Santos, que tive o prazer de conhecê-la durante a faculdade de Fotografia e gostaria que vocês também a conhecesse.

Então, vamos lá!

Oi, Pamela! Tudo bem? Eu como sua amiga já te conheço bem, mas para quem não te conhece, pode falar um pouco mais sobre você?

Meu nome é Pamela, tenho 24 anos e nasci na cidade de Santos – SP. Através do ProUni, me formei no bacharelado em Fotografia do SENAC-SP, em 2018, apresentando o trabalho autoral “A Mãe da minha Mãe” como trabalho de conclusão de curso. Atualmente, faço trabalhos comerciais em São Paulo e em Santos, e aonde mais a Fotografia me levar. Penso que meus projetos autorais são um caminho para eu conhecer a mim mesma e tentar acessar o outro. Transformo meus incômodos, vivências e pensamentos em trabalhos. O processo de fazê-los permite que eu me aprofunde nas minhas próprias camadas internas e me transforme através disso, e também me conecta a outras pessoas.

O que te motivou e continua motivando a trabalhar com a fotografia?

A Fotografia me acompanha desde os meus 12 anos, quando comecei a fotografar por brincadeira com uma câmera compacta da minha família. Passei por muitos processos difíceis e mudanças nesses anos todos, mas meu amor e meu desejo por fotografar se mantiveram intactos. Por muitas vezes, mesmo que eu não soubesse bem o que estava fazendo, fotografar era a única coisa que fazia sentido pra mim e fazia me sentir viva. Atualmente, desenvolver meus trabalhos e observar a forma como as pessoas reagem a eles, me dão um norte e me fazem sentir que tenho um propósito de vida.

Nesse seu processo de identidade como artista, acredito que tenha passado por muitos desafios, quais foram eles?

Não só passei por desafios, mas como continuo passando. É impossível desassociar a forma como fotografo e o que escolho pra fotografar de quem eu sou. Recentemente, tenho passado por muitos questionamentos e buscas sobre quem eu sou e qual é meu papel no mundo. Acredito que todas as pessoas passem por isso, mas para mulheres negras existem muito mais camadas dentro dessa busca. Somos constantemente desumanizadas, apagadas e colocadas dentro de estereótipos. É necessário muito cuidado, aprofundamento e discernimento para compreendermos quem de fato somos e qual é o legado que queremos deixar. Hoje, consigo ser muito mais empática comigo mesma e aceitar que estou em constante desenvolvimento, e que meu trabalho vai acompanhar esse processo. Falando de uma parte mais prática, passei a me cercar de referências de artistas pretas(os), dos mais antigos aos contemporâneos, para tentar compreender quais são as visões que eles têm do mundo e como eles transformam isso em arte.

Maravilhosa, me identifico muito com a sua fala! Mas vamos ao que interessa… Conte um pouco mais a respeito do seu trabalho fotográfico, e de que forma ele tem impactado na sua vida.

Além dos trabalhos comerciais que eu faço para sobreviver, concentro grande parte da minha energia e do meu tempo em criar imagens que signifiquem, intimamente, algo pra mim. Neste contexto, tudo o que fotografo precisa ser real pra mim, isso é, falar de questões que são minhas. Sendo assim, tenho fotografado pessoas negras, especialmente da mesma faixa etária que eu. No processo de criar essas imagens, eu conheço muitas pessoas e suas histórias, seus sonhos, talentos, famílias. São pessoas que eu admiro muito e acabo criando uma relação de afeto. As mulheres, em especial, são as mais incríveis. Sinto em todas elas muita potência e acredito que vão revolucionar o mundo. Eu me inspiro muito nelas. No momento, sinto que este trabalho vem de uma necessidade de criar conexões com outras pessoas pretas e de reafirmar que precisamos criar e protagonizar nossas próprias narrativas em meio a tantas apropriações.

Eu nem preciso falar nada dessas fotografias, sou sua fã desde quando te conheci… e aproveito aqui para dizer, essas e muitas outras fotografias lindas da Pamela estão no instagram dela @pame.santos, já vai lá e começa a seguir! E falando sobre trabalho… como é o mercado da fotografia em Santos?

Sinto que em Santos tem muito menos oportunidades do que em São Paulo, por exemplo.
Os trabalhos geralmente pagam menos também. Em breve, pretendo voltar a morar na capital.

Quais são suas pretensões na fotografia? Além de voltar para São Paulo…

A Fotografia é o meu principal meio de expressão e pretendo continuar trabalhando com ela.
Quero me desenvolver cada vez mais e ser reconhecida pelo meu trabalho. Mas também tenho me interessado por outros caminhos, como o vídeo, por exemplo. Acho que existem muitas outras possibilidades e me sinto aberta para experimentá-las.

E para terminarmos, quais são suas maiores referências/inspirações?

Hoje, eu me sinto inspirada através de muitos estímulos que podem ser músicas, filmes, pinturas, textos, a oralidade das pessoas e, certamente, vivências. O tempo todo estou buscando nas redes sociais, artistas negras(os) que estejam produzindo os mais variados tipos de arte (música, escultura, pintura, ilustração). Ver o que e como essas pessoas estão criando me deixa muito inspirada. Sobre referências, eu constantemente volto para alguns artistas específicos, como: Deana Lawson, Afonso Pimenta, Malick Sidibé, Seydou Keitä, Rosana Paulino, Eustáquio Neves, Lázaro Roberto; mas penso que é essencial nos referenciarmos também em jovens artistas, que estão lutando agora por reconhecimento e criando seus trabalhos. Sobre esses, tenho uma infinidade, tanto no Brasil quanto fora, mas vou citar alguns: Helen Salomão, Juh Almeida, Caroline Lima, Kerolayne Kemblin, Georgia Niara, Stephen Tayo, Micaiah Carter, Ruth Ossai e muitos outros. Mesmo que os trabalhos de algumas das pessoas que citei acima não tenham a ver com a estética do meu, gosto de ver o que elas e eles fazem e ouvir o que têm a dizer.

Gostaria de deixar algum recado para as mulheres negras que estão lendo?

Quero dizer às mulheres pretas, principalmente as que são artistas, que nossa perspectiva de mundo é única. Muitas de nós ainda nem sabem, mas temos uma potência extraordinária para fazer revoluções por onde passamos. Acredito infinitamente em nós e aguardo ansiosamente o dia em que teremos tudo o que é nosso por direito.

Gostou? Não esqueça de acompanhar o trabalho da Pamela no instagram, e de comentar aqui o que achou da nossa entrevista. Sintam-se à vontade para me indicar outras fotógrafas negras para entrevistar aqui no Cultura Preta.

Até a próxima!

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