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AFRONTE: A censura do governo chega ao audiovisual brasileiro

Bolsonaro diz que o governo não vai financiar produções com temas LGBT. Entre as produções citadas está a série Afronte.
Presidente Jair Bolsonaro diz que o governo não vai financiar produções com temas LGBT.

Não é de hoje que o presidente da república, Jair Bolsonaro, e o seu governo vem ameaçando a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) e o cinema brasileiro. Na última quinta-feira (15/08) aconteceu mais um episódio que ameaça o cinema e o audiovisual brasileiro, além de expor a censura que esse governo quer colocar nas obras que não seguem os ideais dos governantes.

Cena do curta-metragem ‘Afronte’. Foto: Divulgação

Durante uma live, organizada pelo próprio presidente na quinta-feira, Jair Bolsonaro afirmou que que filmes com temática de diversidade sexual e de gênero não receberão financiamento público pela Ancine. Na ocasião foram citadas duas produções: o filme “Transversais”, que fala sobre a vivência de transexuais no Ceará, a série “Afronte”, que tratará sobre a vida de jovens negros gays em Brasília, além de outras produções

Após o depoimento, o presidente foi questionado sobre a censura. O mesmo respondeu: “Não existe! Como já falei para vocês, essa questão de recurso público, se entra renúncia fiscal ou não, a gente não pode aceitar qualquer coisa!”.

A equipe de “Afronte” chegou a divulgar uma carta aberta nesta sexta-feira em que critica o que chama de “censura a projetos que buscam discutir a diversidade sexual”. Afronte foi um curta-metragem desenvolvido como trabalho de conclusão de curso por Bruno Victor Santos e Marcus Azevedo, que foi produzido através de financiamento coletivo, sem dinheiro público. O desejo dos diretores é conseguir verba para transformar esse projeto em uma série.

A Associação de Profissionais do Audiovisual Negrxs (APAN) também se pronunciou sobre o ocorrido atrvés de uma nota em suas redes sociais. “Nos causa espanto que seja mais importante ao representante máximo da nação confundir a opinião pública com “bravatas” e “factóides”, atacando pessoas negras, lésbicas, gays e trans, do que combater o genocídio das populações negras. Nos causa repulsa vivenciar um tempo em que o chefe de estado-maior apresenta a transfobia, lesbofóbia e homofobia como valores a serem seguidos pela sociedade brasileira.”, diz a associação na nota.

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AFRONTE, NÃO TOLERAREMOS CENSURA! A APAN – Associação de Profissionais do Audiovisual Negrxs, vem a público repudiar as últimas declarações do Sr. Presidente da República, que sugeriram CENSURA PRÉVIA a projetos audiovisuais que trazem narrativas e subjetividades de pessoas negras, gays, transgêneros e transsexuais – dentre eles, a série AFRONTE, originada do curta-metragem homônimo, obras produzidas, dirigidas e protagonizadas por associadxs da A.P.A.N. Nos causa espanto que seja mais importante ao representante máximo da nação confundir a opinião pública com “bravatas" e “factóides”, atacando pessoas negras, lésbicas, gays e trans, do que combater o genocídio das populações negras. Nos causa repulsa vivenciar um tempo em que o chefe de estado-maior apresenta a transfobia, lesbofóbia e homofobia como valores a serem seguidos pela sociedade brasileira. Por que incomoda tanto a possibilidade de narrativas audiovisuais que “mostrem a realidade vivida por negros homossexuais no DF” e/ou em todo o Brasil? A quem interessa inviabilizar que mais de 53% da população tenham a sua disposição narrativas audiovisuais inspiradas em suas realidades, subjetividades e especificidades? A APAN se solidariza com xs associadxs e não associadxs que tiveram seus nomes, projetos e imagens atreladas a esse episódio de “censura prévia” e convoca a sociedade brasileira para se enfileirar e se pôr no combate à iminência de um regime ditatorial no país. Nosso corpo jurídico acompanhará de perto a tramitação do projeto AFRONTE e não nos furtaremos a recorrer até as últimas instâncias dos organismos nacionais e internacionais por vias democráticas, para termos assegurado o direito constitucional de pessoas negras, lésbicas, homossexuais, transexuais e transgêneros expressarem suas ideias, pensamentos e arte por meio do audiovisual. Brasil, 16 de agosto de 2019 APAN – Associação de Profissionais do Audiovisual Negrxs. NOTA NA INTEGRAL EM NOSSO FACEBOOK #audiovisualplural #racismo #homofobia #lesbofobia #transfobia #cultura #cinemanacional #ancine #audiovisualbrasileiro

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Três das produções citadas pelo presidente, “Afronte”, “Transversais” e “Religare queer”, concorrem à chamada pública “RDE/FSA PRODAV” que visa selecionar séries para a programação da TV pública em canais como a TV Brasil. Os vencedores seriam financiados por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

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