Nascido da necessidade de deslocar o holofote das discussões sobre racismo no Brasil para a branquitude e sua responsabilidade na manutenção das opressões contra as pessoas negras, acaba de ser fundado o Observatório da Branquitude.
Por meio de ações em três eixos principais – articulação política, produção de conhecimento contínua e sistemática, comunicação – a iniciativa se propõe a qualificar a discussão sobre as relações raciais com foco na responsabilização de pessoas brancas para assegurar que as instituições não tenham uma visão monocromática, difundindo, assim, a inserção e igualdade de pessoas não brancas nos espaços de poder.
Com uma equipe integralmente negra, multidisciplinar e com paridade de gênero, o Observatório da Branquitude é a primeira organização da sociedade civil brasileira que tem como tema principal a análise da identidade racial branca e suas estruturas de poder.
Para a entidade, branquitude é definida como o lugar de privilégios raciais simbólicos e materiais, que se construiu, historicamente, como o mais elevado da hierarquia racial, tendo o poder de classificar o outro, atribuir racialidade e estigmatizar a subjetividade de sujeitos considerados não brancos.
Para o coordenador executivo do Observatório, Thales Vieira, “esta iniciativa se coloca no campo da luta antirracista no Brasil, desvelando a branquitude na construção de uma agenda de observação e reflexão capaz de influenciar o debate público e esmiuçando as diversas dimensões no arcabouço sociorracial branco e sua atuação em instituições, na cultura e no imaginário da sociedade”.

A discussão sobre os efeitos da branquitude na sociedade tem sido um objeto de estudo cada vez mais relevante nas pesquisas: segundo levantamento feito pelo Observatório da Branquitude em maio de 2022, apenas entre 2020 e 2021, o conjunto de publicações que se dedicam a analisar este fenômeno alcançou 50% do total sobre o tema nos últimos anos. Entre janeiro de 2018 e abril de 2022, o percentual chega a 69%. Outro dado interessante trazido pelo estudo é que pessoas do gênero feminino compõem maioria da autoria a respeito do tema, sendo 64%.
Os dados completos deste estudo, nomeado “Revisão sistemática de literatura sobre branquitude”, serão difundidos hoje, dia 10, no Museu Histórico da Cultura Afro Brasileira (MUHCAB), no Rio de Janeiro, que marca também o lançamento oficial do Observatório, inclusive de seu site,e do livro “Pacto da Branquitude”, de Cida Bento. Com apoio do projeto SETA – Sistema de Educação por Uma Transformação Antirracista, às 18h, ocorre uma mesa de debates sobre a obra composta pela autora e Carol Canegal, pesquisadora do Observatório da Branquitude, e mediada pela jornalista Yasmin Santos. Ao fim do debate, às 19h30, uma roda de samba encerra as atividades.
Para Carol Canegal, pesquisadora da instituição, “a própria idealização e desenho do Observatório da Branquitude deve ser interpretada e considerada como mais um fruto destas mobilizações críticas. Estas movimentações conectam o acúmulo de reflexão teórica e a atuação dos movimentos sociais negros em prol do avanço do debate sobre desigualdades raciais e seus efeitos nefastos na vida social no Brasil”, afirma. Até o final do ano, o Observatório lançará relatórios e promoverá eventos e ativações sobre o assunto.
Com a meta de fomentar transformações na sociedade brasileira, o Observatório da Branquitude pretende contribuir com organizações, coletivos e pesquisadores negros, estimulando ações sobre temas capazes de obter aderência no debate público. A ideia é colaborar para a consolidação desses ecossistemas de produção de conteúdo e estudos.
Para conhecer o site do Observatório da Branquitude, lançado hoje, clique aqui.
Serviço:
Lançamento do Observatório da Branquitude e do livro “O Pacto da Branquitude”, de Cida Bento
Onde: Museu Histórico da Cultura Afro Brasileira (MUHCAB)
Quando: 10/6, às 17h30
Endereço: R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro, RJ