O reduto do samba uberlandense está de luto com a perda de um dos precursores do carnaval de rua, na noite da última terça-feira 23 de fevereiro de 2021. Arlindo Oliveira Filho – Mestre Lotinho morreu aos 85 anos, no mês do carnaval, em meio a pandemia que castiga a cidade e o país, vítima de um infarto fulminante.

Descendente de uma família de músicos, iniciou aos 13 anos de idade sua trajetória boêmia. Nas décadas de 1930 e 1940, o jovem Lotinho participara, junto com familiares do rancho carnavalesco Tenentes Negros.
Na década de 1950 foi convidado para se apresentar no Uberlândia Clube em uma época onde a entrada dos negros era vetada no local. Como cantor profissional animou a noite em vários “clubes” e “bordéis”, teve um programa na Rádio Educadora e participou como cantor, ator e cinegrafista de diversos espetáculos musicais e teatrais realizados pelo Clube José do Patrocínio, mais conhecido como “Caba-Roupa”, um local onde os negros se reuniam para cantar e dançar e por ser de chão batido acabava com as suas roupas.
“O Clube chamava José do Patrocínio e o povo colocou o apelido de “Caba Roupa” porque era um salão que ele não tinha assoalho, taco no chão e quando o povo começava a dançar a poeira subia e sujava demais…”, relembra com alegria Mestre Bolinho, um dos integrantes da velha guarda da Tabajara.

Lotinho contribuiu e muito com a história da arte e da cultura negra de Uberlândia, sendo o fundador da 1ª escola de samba da cidade, a Escola de Samba Tabajara criada em 1954 junto com outros jovens do Bairro Patrimônio. O nome foi inspirado na Orquestra Tabajara de Severino Araújo, e em homenagem aos índios Tabajaras, que inspiraram a primeira fantasia de seus componentes foliões.
Em 1956 a Rádio Educadora de Uberlândia realizou o primeiro concurso de escolas de samba da cidade, sendo a Tabajara sua primeira campeã. Também foi campeã do primeiro concurso oficial do carnaval de Uberlândia em 1957.
Sob o seu comando a escola venceu vários campeonatos e ele passou a ser chamado de General, pois dirigia a bateria, desenhava as fantasias e ensinava as cabrochas da Escola a dançar, além de ter composto alguns dos sambas que a escola levou para avenida.

“Lotinho foi um homem a frente do seu tempo, um homem que iniciou o carnaval aqui em Uberlândia”, relata Mary Ivone, integrante da escola.
Filho ilustre do Bairro Patrimônio, reduto de negros e da cultura popular uberlandense, parte e deixa saudade e um legado incrível.
“Hoje é com muito orgulho que eu venho aqui, em poucas palavras para engrandecer o nome do meu pai. Agradeço a ele por ser a pessoa que sou e me tornar no que me tornei culturalmente falando”, fala com carinho Eurípedes Passarinho, filho do mestre.
Arlindo havia se afastado das comemorações carnavalescas e há alguns anos não participava das festividades. Deixou esposa, filhos, netos e bisnetos.
Partiu um líder e uma referência para os amantes do samba e do carnaval de rua dessa cidade que deixa como herança a história de um homem que desafiou o preconceito, revolucionou uma geração e é um dos bambas do samba.
Descanse em paz guerreiro!!