No dia 31 de julho foi lançado na Disney+ o filme-álbum Black is King, dirigido, produzido e protagonizado pela multiartista Beyoncé. Desde seu anúncio a internet estava as loucuras, não foi diferente no seu lançamento. Se você tem uma bolha social de pessoas negras, provavelmente o final de semana pós-lançamento só tinha imagens e comentários sobre a produção. E a produção é realmente primorosa: músicas incríveis, direção de arte e figurinos espetaculares, uma fotografia assertiva e só elogios para a parte técnica. Mas não é sobre a parte técnica que eu vou falar nesse texto.
É bom lembrar que Black is King é uma continuidade de um projeto da parceria Disney-Beyoncé, que começou com o live action(?) de Rei Leão, protagonizado pela cantora, passou pelo seu álbum surpresa The Lion King: The Gift e finalizou, pelo menos até onde sabemos, com Black is King. No filme Beyoncé, faz uma releitura interessante de Rei Leão, trazendo falas do longa da Disney para abrir e intercalar as músicas, mantém a trama na criança que sai de casa jovem e reencontra já adulto puxado pelo seu grande amor. Ao lado dessa trama Beyoncé, sendo nas músicas, nas imagens ou na estética afrofuturista adotada, exalta o corpo negro, o ser negro. Isso me lembra outra coisa a ser destacada: Black is King é feito para o público negro, e não para o público branco de diva pop.
Eu nunca fui fã de Beyoncé, muito mais por não curtir o estilo musical dela do que por conta da própria artista. Na verdade, admiro muito o trabalho dela e acho inteligentíssima sua caminhada até aqui. Ela começou ali entre as divas pops, agradando o público branco que “validava” essas artistas. Com seu inegável talento musical, ela foi validada. Cresceu no estilo se tornando um dos maiores nomes, começou, então, a fazer músicas com um discurso mais sério, foi quando veio Lemonade, um álbum com letras mais densas e discursos mais voltados para o racial. Sim, voltado para o racial, mas não para o público negro, Lemonade ainda veio para agradar os brancos, com discursos que eles gostam de ouvir. Deferente do que, na minha opinião, é seu auge artístico, Black is King, que exaltam o negro, e branco não gosta de ver negro exaltado. Por isso mesmo que o filme teve tantas críticas negativas de pessoas brancas, como por exemplo o “ela precisa sair da sala de estar”.

Beyoncé conseguiu chegar onde pensávamos que não poderíamos. Uma das mulheres mais conhecidas do planeta, uma referência musical para tantos, uma multiartista completa, e mesmo assim ela não é suficiente para a branquitude. Eu acho que toda obra deve ter espaços para críticas, nenhuma obra é perfeita, mas essas críticas precisam ser reais, e não banhadas ao racismo. Finalmente alguns dos nossos estão entrando na sala de estar e já querem nos devolver para a cozinha. Eu quero é ver mais cenas como Beyoncé e Jay-z numa mansão sendo servidos por pessoas brancas. Queremos ver mais pretos no topo. E é por isso que o público negro tanto exaltou Black is King, tanto se emocionou. É por isso que Beyoncé recebeu o título de Deusa.