Mulheres Negras na Fotografia: Jaque Rodrigues

Olá, leitores do CP! Como estão?

Depois de um bom tempo sem aparecer por aqui, estou de volta com o quadro mulheres negras na fotografia. E mais uma vez, a convidada é uma mulher especial, que conheci no ano passado.

Hoje iremos conhecer um pouco mais sobre a Jaque Rodrigues, que é artista visual licenciada em Artes Visuais pela Universidade Regional do Cariri – URCA, e também profissional na área de fotografia. Ela se formou no final do ano de 2019 com seu TCC Fotógrafas Negras: Revelando a Imagem Invisível, e foi através da sua pesquisa por fotógrafas negras que pudemos nos conhecer.
Posso dizer a vocês que foi uma honra de poder dar voz ao meu trabalho nesse projeto incrível, mas logo vocês saberão mais…

Acompanhem a entrevista:

Qual foi seu primeiro contato com a arte? Conte um pouco sobre como foi sua decisão de estudar Artes Visuais.

Não tenho uma resposta exata para essa pergunta. Mas carrego comigo memórias que são possíveis indícios de minha aproximação com a arte. Meu avô (in memoriam) produzia móveis em miniatura, cadeiras, mesas, cama, entre outras coisas. Acompanhei um tempo esse artifício, sempre com muita admiração pela capacidade de talhar, esculpir e dar forma a madeira. De outro lado, acompanhei um primo que durante parte de sua vida foi pintor, ele reproduzia quadros que imprimiam paisagens da natureza, eu tinha apreço por observá-lo pintar. Sempre fui uma criança curiosa, e ainda na infância, tive meu primeiro contato com a fotografia. Havia um laboratório de fotografia analógica em frente à minha casa, por vezes, me foi permitido acompanhar todo o processo de revelação das imagens. Sala escura, filmes fotográficos, vasilhas com água que banhavam papéis e filmes. Era bonito acompanhar o processo e poético ver a imagem surgir, a fotografia que é luz, nesse caso, precisava do escuro pra existir… Em relação a universidade, talvez o curso tenha me escolhido… Cresci numa cidade pequena chamada Várzea Alegre, é interior cearense, aos 21 anos surgiu a oportunidade de conhecer Campinas – SP e fiquei morando um período lá, até fiz vestibular para cursar Fotografia, porém, foi impossível conciliar trabalho e estudos. Ao retornar ao Ceará tive dificuldade de me readaptar na cidade em que cresci, com isso, viajei para a cidade mais próxima dela e mais desenvolvida, fiz vestibular e escolhi o curso por afinidade e também por incentivo da fotografia, assim, iniciei minha trajetória acadêmica, isso aconteceu em 2013, eu estava com 23 anos. O tempo voa! Risos.

Como foi seu processo criativo antes de decidir criar esse projeto?

Desde que entrei na Licenciatura em Artes Visuais, a fotografia tem sido minha linguagem preferida, aliás, muito antes de entrar no curso ela já era minha companheira amada. Durante o percurso acadêmico pude experimentar diferentes técnicas e formas de expressão que me permitiram produzir e dar asas à imaginação. Quando olho para trás e percebo o conteúdo de meus trabalhos desenvolvidos ao longo das disciplinas, percebo que trabalhei muito dentro da perspectiva do “autoconhecimento”, era uma oportunidade de busca, percebo que eu estava numa eterna busca, hoje compreendo melhor sobre essa busca, porque minha história com a academia me trouxe muito de mim, é como se esse tempo tivesse colocado um grande espelho na minha frente, sabe? Para que eu pudesse me enxergar. E digo isso, porque vivi um processo de redescoberta e reinvenção, foi nessa experiência que me descobri uma mulher negra, e também uma mulher fotógrafa, no sentido que querer este ofício para minha vida. Então, meus processos criativos sempre estiveram relacionados a questões autobiográficas, que transitavam — e ainda transitam — sobre temas relacionados a ser mulher e ser negra, e todas as violências que permeiam este gênero. Dentre as linguagens que me identifico e que explorei em meu percurso, estão a xilogravura e a colagem, também produzi desenhos e pinturas, mas nunca foi meu maior interesse dentro da graduação.  

Pode nos mostrar um pouco do seu trabalho? Acredito que para nós artistas é mais fácil falarmos sobre nós mostrando o que fazemos.

Sim. Eu vou deixar aqui alguns links, onde é possível ver algumas de minhas produções. 

Portfólio no Behance e no instagram: @jaquerodriguesfotografias @florescimento

Voltando ao assunto do seu projeto fotográfico que foi tema do seu TCC: fotógrafas negras… por qual motivo você decidiu criá-lo?

Saber e decidir o que pesquisar para o trabalho de conclusão de curso é um drama que todo estudante vive em algum momento da graduação. Eu quis pesquisar de tudo, tive muitas ideias, mas só cheguei num discernimento exato no penúltimo semestre. Um belo dia, deitada numa rede, esperando as férias acabarem, pensei “ué, por que que eu não pesquiso sobre fotografia se é o que mais gosto?”. Foi como uma ficha que caiu bem na minha cara, os demais detalhes foram se organizando naturalmente. Como eu estava quase no final do curso, estudando questões acerca do meu reconhecimento enquanto mulher negra e fotógrafa, e vivenciando reflexões acerca de ser profissional da fotografia, decidi por pesquisar fotógrafas negras, e a ideia de fazer um mapeamento aconteceu de uma maneira orgânica, já que nesse processo eu gostaria de saber a história de outras mulheres que vivenciam as mesmas questões que eu, tanto com referência na questão de se perceber uma mulher negra, como na questão de se colocar enquanto profissional da fotografia. E sabemos que ainda é predominante a presença de homens (héteros e brancos) neste ofício, por isso, escolhi produzir conhecimento acerca da invisibilidade da fotógrafa negra, essa pesquisa se tornou subsídio e referência para que possamos discutir sobre a presença da mulher negra e fotógrafa na história da arte e do Brasil, e essas discussões são relativamente novas na academia, tanto que, durante a pesquisa tive imensa dificuldade de encontrar referências que falassem especificamente do tema proposto. No TCC intitulado Fotógrafas Negras: Revelando a Imagem Invisível faço recortes que nos permitem revisitar a historiografia ‘oficial’ para repensar a presença dos corpos negros na História da Arte do Brasil, e vou desenvolvendo até chegar na presença desses corpos femininos na Fotografia, o que se desdobrou em um mapeamento no qual busquei localizar fotógrafas negras brasileiras, criando a plataforma no Instagram afim de direcionar o olhar à essas profissionais e seus processos criativos. Ao longo da investigação para o TCC, tive muita dificuldade de encontrar referências sobre fotógrafas negras para desenvolver a pesquisa, o que é indicativo também do quanto é necessário falarmos disso, a plataforma é uma ponte e possibilidade para conhecer novos olhares, para difundir e estimular discussões, construindo assim, subsídios para o conhecimento e a reflexão acerca da invisibilidade dessas profissionais na fotografia. O mapeamento não se encerrou no final da graduação, ao contrário, tenho investido nessa proposta, e tentando ampliar através de outras possibilidades. Tenho uma lista de fotógrafas negras que vou lançando aos poucos na plataforma, e essa investigação tende a alimentar cada vez mais essa lista. Temos fotógrafas produzindo em todos os lugares no Brasil, e trabalhos potentes e incríveis, acho pertinente partilharmos esses olhares com o mundo. Aqui nós somos o centro…

Acho que já deu para entender a importância do trabalho que a Jaque vem desenvolvendo, para ampliar nossas referências fotográficas por mulheres negras. Se você ainda não conhece o projeto, eu recomendo que você vá agora no instagram @fotografasnegras e comece a acompanha-lo.

Espero que tenham gostado! Não deixe de comentar aqui embaixo, falando o que achou dessa entrevista, e sugestões de outras fotógrafas negras que podemos trazer aqui.

Até a próxima!

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