Escrito por Tamy Reis
Quando eu penso no R&B, penso imediatamente na história que ele carrega. É um gênero que nasce da música negra norte-americana, do Rhythm and Blues, mas que sempre encontrou espaço no Brasil. Mesmo que muitas pessoas ainda associem o R&B apenas ao que vem de fora, existe aqui uma cena viva, cheia de identidade, cheia de autenticidade e feita por artistas que entendem que esse ritmo é mais do que estética. É herança, é voz, é sentimento.


O R&B sempre respirou dentro de outros gêneros. Ele ajudou a construir refrões do rap, influenciou melodias do pop, se misturou com o soul e caminhou junto com a história da black music nacional. Hoje vejo uma nova geração fazendo esse movimento crescer com força e profundidade, com artistas que mergulham nas próprias histórias para construir som.
A Bela Maria é um desses exemplos. Quando conversamos, ela me contou algo que traduz exatamente o que eu acredito sobre o R&B no Brasil. Ela disse:
“Percebi quando entendi que essa sonoridade sempre pulsou em mim desde criança ouvindo Tim Maia, Seu Jorge, Fat Family, essa musicalidade preta que já faz parte do meu corpo. Mas também quando me aproximei da história do próprio gênero. O R&B nasceu como uma maneira de renomear o que antes era chamado de race records, numa época em que todo o ‘barulho’ produzido por pessoas negras era controlado, proibido ou suavizado para caber em estruturas brancas.

E quando perguntei sobre lançar um primeiro álbum dentro do R&B, ela trouxe algo muito poderoso:
“Sinto que é como dizer que sei de onde meu som vem, já que a cultura preta é berço para quase todos os ritmos que temos no Brasil e no mundo e o R&B engloba vários deles. E sabendo que a história do gênero carrega resistência, reinvenção e a criatividade que pessoas negras sempre tiveram, mesmo quando tentaram moldar ou silenciar nossa expressão, construir meu primeiro álbum em cima desse ritmo é significativo demais pra mim.”
O Nael também trouxe reflexões importantes sobre o impacto do gênero na própria trajetória. Ele me contou:
“O R&B já estava presente na minha vida, acho que desde a infância. Eu cresci escutando, mas não sabia de fato o que era. Então, ali na minha pré-adolescência, eu ganhei um DVD que mudou a minha vida, que foi o DVD do Usher, o Evolution, 8701, se eu não me engano o nome, e ali eu fui entender a proporção do que era o gênero, com toda a performance dos bailarinos, estrutura de palco, os músicos, por já tocar na igreja e ter essa percepção”.
E, olhando para o futuro do R&B, ele disse algo que resume a força dessa nova geração:
“Posso dizer que a gente é a nova onda do momento. Com certeza a gente é a nova aposta do ano que vem. Temos grandes nomes aí já se destacando. Já existe um público e isso é muito importante. E a galera se unir de fato mesmo, mais ainda. Fazer mais colaborações, mais feat. E com certeza nosso momento vai chegar.” Para mim, o R&B sempre foi sentir. Antes de qualquer classificação, ele é corpo, emoção e ancestralidade. Por isso fico tão feliz de ver o quanto esse movimento está crescendo no mainstream brasileiro. Quando a Ludmilla lança um álbum que traz a essência do R&B, ela não está apenas experimentando. Ela está trazendo para o centro algo que sempre foi nosso: a força da música preta que constrói identidade”.
E, hoje, quando vejo Budah, Luccas Carlos, Jean Tassy, Ryan Fidelis, Aísha, Maui, Bela Maria, Loh Nascimento, Nael e tantos outros construindo com consistência, eu sinto orgulho. Sinto que estamos vivendo um momento importante, de verdadeira valorização.
O que eu desejo para o R&B brasileiro é permanência. Que ele não seja só hype. Que siga entendido como cultura, como herança, como voz. Porque a música preta brasileira é gigante e o R&B é parte essencial dessa giganteza.




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