Em “Irmãs”, nova montagem teatral do diretor Renato Carrera, partindo da obra As Três Irmãs, de Anton Tchékhov, três mulheres negras (Dani Ornellas, Isabél Zuaa e Jamile Cazumbá) e uma branca (Alli Willow) provenientes de vivências e realidades em ambiências e culturas diversas – Baixada Fluminense, Salvador, Lisboa, Lamu/Quênia, Paris e Nova Iorque –, em comum ancestralidades de resistência, conectam-se às suas raízes, misturando elementos da peça original de Tchékhov com questões pessoais, políticas e humanistas, rompendo paradigmas tradicionais do fazer artístico e ampliando as possibilidades da criação teatral, em meio a cenografia de um casarão em construção, buscando reflexões sobre a mulher nos tempos atuais.

Isabél Zuaa, Dani Ornellas, Jamile Cazumbá e Alli Willow Foto: Dalton Valério

O conflito das atrizes-personagens Dani Ornellas (Olga), Isabél Zuaa (Macha), Jamile Cazumbá (Irina) e Alli Willow (Natacha), ao ensaiarem um clássico do teatro mundial, explode em um metadrama psicológico trágico, aproximando ancestralidade e atualidade, destacando a dialética temporal das personagens-atrizes em contexto histórico de transição,  que proporciona reflexões sobre a vida fragmentada e as nuances do tempo.

“Essas três irmãs são vozes que ecoam do útero mítico dessa família, mas com questionamentos humanos femininos pertinentes a qualquer época e com a profundidade das nossas memórias e vivências”, destaca a atriz e dramaturga Dani Ornellas.

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Em cena, elas discutem colorismo, feminismo, regionalidades, amor, solidão e desejos não sucumbidos em busca de uma nova vida. São personagens que nos fazem refletir sobre a vida esfacelada, sobre o passado idealizado nunca reposto, sobre um futuro utópico que as resgate da vida vazia ou sobre as mudanças que parecem operar nos bastidores de um presente de inação.

Como metadrama, a peça explora percepções do fluxo temporal e possibilidades históricas de transição. Baseada em afirmação-contraposição irônica, a ideia é unir ancestralidades e atualidades em um único tempo. A validade do discurso e a identidade de cada atriz-personagem é sempre colocada em questão. Sujeitos em crise que promovem uma luta sútil íntima, que para ganhar forma, põe em xeque não só as convenções do drama, como também a própria ideia de um presente de ações como a temporalidade estável.

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A versão cênica de Renato Carrera, que assina a dramaturgia junto a Dani Ornellas, acontece em três atos e em tempos diferentes. O primeiro ato é dividido em quatro cenas, enquanto acontece uma bateria de testes para a encenação de uma montagem de As Três Irmãs, no conflito entre atriz-personagem, as situações vêm à tona. O segundo ato acontece durante o aniversário de Irina, a irmã mais nova. No terceiro ato, final, é encenado o quarto ato da peça de Tchékhov. A encenação busca proporcionar uma experiência sensorial para o público pelas falas das atrizes, pelas projeções, pela trilha sonora, mas também quando os espectadores adentram o teatro atravessando e vivenciando a cenografia, o ambiente da cena.

“A encenação traz as vivências dessas quatro mulheres, amigas íntimas de longa data e que mesmo distantes, cada uma em sua cidade, estão sempre juntas, realizando uma sororidade muito forte com depoimentos pessoais que dialogam muito bem com o texto do Tchékhov”, comenta o diretor Renato Carrera.

“Irmãs” reúne um grupo de artistas, em sua maioria negros, consagrando o encontro das atrizes Dani Ornellas, Isabél Zuaa, Jamile Cazumbá e Alli Willow, sob a direção de Renato Carrera,  dramaturgia de Dani Ornellas e Renato Carrera, iluminação de Daniela Sanchez, cenário de Daniel de Jesus, figurinos de Biza Vianna e Dani Ornellas, trilha sonora de Jonathan Ferr, visagismo de Joana Seibel, direção de movimento de Johayne Hildefonso e direção de produção de Gabriel Bortolini.

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“A gente precisa revisitar as histórias que nos contaram para poder escrever outras, novas. Narrativas que mostrem o que foi apagado, o que nos foi negado. Realidades que sempre existiram, mas o mundo escolheu não ver. Irmãs nasce desse desejo. E para isso, não basta ter pretos só no palco – é preciso ter pretos também na dramaturgia, na trilha, na produção. É preciso se aquilombar em todos os lados. Porque só assim a gente constrói, de verdade, um outro mundo possível”, comenta o produtor Gabriel Bortolini.

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O espetáculo é uma realização da #pingoéletraproduções e REPRODUTORA. Fruto de patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro – PCRJ, por meio da Secretaria Municipal de Cultura – SMC, através do edital Pró-Carioca Linguagens – Programa de Fomento à Cultura Carioca – edição PNAB e também do Sesc, através do edital Sesc Pulsar 2025. IRMÃS é o terceiro espetáculo da Brunzuncompany, precedido de FIDES = Fé em Latim e Bruzundangas, ambos de 2024.

Serviço

Temporada: 26 de junho até 20 de julho de 2025
Dias e horários: Quinta a sábado às 20h e domingo às 19h
Local: Arena do Sesc Copacabana
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro
Informações: (21) 3180-5226
Ingressos: R$ 10 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada) e R$ 30 (inteira)
Bilheteria: Funcionamento de terça a sexta das 9h às 20h, sábados, domingos e feriados das 14h às 20h.
Classificação: 16 anos
Duração: 1h40


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