O racismo estrutural no Brasil tem historicamente limitado o desenvolvimento econômico da população negra, impactando diretamente o crescimento de negócios liderados por afroempreendedores. Embora os empreendedores negros representem 52,4% do total de donos/donas de negócios no país, segundo o Sebrae, eles ainda enfrentam desafios significativos, como acesso restrito a crédito e dificuldades na formalização empresarial.

A desigualdade de renda também é evidente: empresários negros ganham, em média, 32% menos que empresários brancos. Além disso, de acordo com o Le Monde Diplomatique, apenas 5% dos empresários negros conseguiram acesso a linhas de crédito bancário tradicionais em 2023, refletindo o racismo institucional presente no sistema financeiro e limitando as possibilidades de desenvolvimento econômico dessa população.
O impacto desse cenário vai além das dificuldades financeiras individuais. A falta de investimento e oportunidades para negócios negros enfraquece a economia como um todo, já que a circulação de renda dentro da comunidade é reduzida. Segundo um levantamento da Carta Capital, afroempreendedores movimentam cerca de R$ 2 trilhões por ano no Brasil, mas ainda enfrentam obstáculos estruturais para expandir seus negócios. O acesso ao crédito, a informalidade e a falta de políticas públicas eficazes mantêm grande parte desses empreendedores na luta pela sobrevivência, em vez de possibilitar um crescimento sustentável.
Mudanças em Curso e a Força do Afroempreendedorismo
Para enfrentar essas barreiras, diversas iniciativas têm sido implementadas visando promover o crescimento e a sustentabilidade dos negócios negros. Programas de mentoria, capacitação técnica e aceleração de negócios têm sido fundamentais para o desenvolvimento de habilidades de gestão e ampliação do acesso a mercados mais amplos. Além disso, políticas públicas como o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) têm facilitado o acesso ao crédito para pequenos empreendedores, criando oportunidades para o afroempreendedorismo.
Um exemplo de iniciativa de sucesso é a Afrocentrados Conceito, fundada por Cynthia Paixão, em Salvador. A loja colaborativa reúne mais de 100 empreendedores negros, oferecendo um espaço para divulgação e comercialização de seus produtos. Além disso, a Afrocentrados promove mentorias em empreendedorismo e marketing digital, auxiliando seus parceiros a crescer de forma planejada. Eventos como o AfroDonas e o Baile Black proporcionam networking e aprendizado, fortalecendo a comunidade empreendedora negra.

Cynthia Paixão, à frente do projeto, destaca a importância da valorização e do fortalecimento da economia negra. “O racismo não é só sobre impedir acessos, é também sobre apagar histórias e deslegitimar conquistas. Quando um negócio negro prospera, ele não cresce sozinho. Ele gera empregos, cria referências e empodera outras pessoas a acreditarem que também podem chegar lá”, afirma.
Apesar dos avanços, o afroempreendedorismo ainda enfrenta barreiras culturais e estruturais. A falta de representatividade em espaços de decisão, como grandes associações comerciais e bancos de investimento, mantém a exclusão de negócios negros de grandes oportunidades de crescimento. O conceito de Black Money, que incentiva a comunidade negra a consumir e investir em negócios de empreendedores negros, tem sido uma das formas de driblar essa exclusão e fortalecer uma economia mais equitativa.

A digitalização tem sido uma das ferramentas mais eficazes para contornar essas barreiras. Cynthia Paixão reforça o papel da tecnologia nesse movimento. “As redes sociais e o e-commerce permitiram que muitos empreendedores negros pudessem vender diretamente para seus clientes sem precisar passar pelos filtros do racismo institucional. Mas ainda precisamos de mais apoio, mais investimento e mais educação financeira para que esses negócios sejam sustentáveis no longo prazo”.
Para 2025, espera-se uma maior adoção de ferramentas digitais pelos afroempreendedores, especialmente no e-commerce, que cresceu 16% em 2024. O marketing digital continuará sendo uma estratégia crucial para a expansão dos negócios, enquanto a aprovação do fundo garantidor do Pronampe pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) poderá ampliar ainda mais o acesso ao crédito. Embora o racismo estrutural ainda imponha desafios significativos aos empreendedores negros no Brasil, iniciativas como a Afrocentrados Conceito e políticas públicas direcionadas têm contribuído para a transformação desse cenário, promovendo a inclusão e o crescimento econômico da comunidade negra.




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